Erro número 11: Presumir que a Bíblia aprova tudo o que ela
registra.
É um erro admitir que tudo o que a Bíblia contém seja
recomendado por ela. Toda a Bíblia é verdadeira (Jo 17:17), mas ela registra
algumas mentiras, como por exemplo as de Satanás (Gn 3:4; conforme Jo 8:44) e a
de Raabe (Js 2:4). A inspiração está sobre toda a Bíblia de forma tão completa
e abrangente que ela registra com exatidão e verdade até mesmo as mentiras e os
erros dos que pecaram. A verdade, na Bíblia, encontra-se no que ela revela, não
em tudo que ela registra. Sem que se faça esta distinção, pode-se concluir de
maneira errada que a Bíblia ensina imoralidade, porque ela narra o pecado de
Davi (2 Sm 11:4); ou que ela promove a poligamia, porque registra o caso de
Salomão (1 Rs 11:3); ou que ela ensina o ateísmo, por citar o tolo que diz:
"não há Deus" (Sl 14:1).
Erro número 12: Esquecer-se de que a Bíblia faz uso de uma
linguagem comum, não-técnica.
Para que algo seja verdadeiro, não é necessário fazer uso de
uma linguagem erudita, técnica ou, assim chamada, "científica". A
Bíblia foi escrita para pessoas comuns de todas as gerações, e, portanto,
emprega a linguagem comum, do dia-a-dia. Q uso de uma linguagem não-científica
não vai de encontro à ciência, pois ela é anterior à ciência. As Escrituras
foram escritas em tempos antigos, com padrões antigos, e seria algo anacrônico
impor sobre elas padrões científicos modernos. Contudo, não é menos científico
falar que "o sol se deteve" (Js 10:13) do que se referir ao
"nascer do sol" (Js 1:15). Ainda hoje os meteorologistas mencionam
todo dia sobre a hora do "nascer" e do "pôr-do-sol".
Erro número 13: Considerar que números arredondados sejam
errados.
Outro engano algumas vezes cometido pelos críticos é quando
eles alegam que há erro em números que foram arredondados. Não é assim. Números
arredondados são apenas isso: números arredondados. Como ocorre no linguajar
comum, a Bíblia faz uso de números arredondados (1 Cr 19:18; 21:5). Por
exemplo, quando se referiu ao diâmetro como sendo cerca de um terço da
circunferência. Do ponto de vista da sociedade tecnológica atual, pode ser
impreciso tomar como sendo três o que é na realidade 3,14159265..., o que não é
incorreto para um povo antigo, vivendo numa era não-tecnológica. Três é o
arredondamento do número "pi". Isso é o suficiente para o "mar
de fundição" (2 Cr 4:2), na medida de um antigo templo hebreu, embora esta
precisão não seja, hoje em dia, suficiente para os cálculos feitos por um
computador, num foguete moderno. Mas não temos de esperar precisão científica
numa era pré-cientifica. De fato, isso seria tão anacrônico como usar um
relógio de pulso numa peça de Shakespeare.
Erro número 14: Não observar que a Bíblia faz uso de
diferentes recursos literários.
Um livro inspirado não precisa ser composto em um único
estilo literário. Foram seres humanos que escreveram os livros da Bíblia, e a
linguagem humana não se limita a uma única forma de expressão. Assim, não há
por que supor que apenas uma forma de expressão ou apenas um gênero literário
tenha de ter sido empregado num livro divinamente inspirado.
A Bíblia revela muitos recursos literários. Vários de seus
livros acham-se inteiramente escritos no estilo poético (por exemplo, Jó,
Salmos, Provérbios). Os Evangelhos sinóticos estão cheios de parábolas. Em
Gálatas 4, Paulo faz uso de uma alegoria. No NT acham-se muitas metáforas (por
exemplo, 2 Co 3:2-3, Tg 3:6), e comparações (Mt20:l; Tg 1:6); há também (por
exemplo, Cl 1:23; Jo 21:25; 2 Co 3:2) e, até mesmo, figuras poéticas (Jó 41:1).
Jesus empregou a sátira (Mt 19:24, 23:24). Figuras de linguagem são comuns por
toda a Bíblia.
Não constitui erro o autor bíblico fazer uso de uma figura
de linguagem, mas é errado tomar uma figura de linguagem de forma literal.
Obviamente, quando a Bíblia fala do crente que se acolhe à sombra das
"asas" de Deus (Sl 36:7), isso não quer dizer que Deus seja uma ave
com uma bela plumagem. De igual modo, quando a Bíblia fala que Deus
"desperta" (Sl 44:23), como se ele estivesse dormindo, trata-se de
uma figura de linguagem que indica a inatividade de Deus antes de ele ser levado
a exercer o juízo pelo pecado humano. Temos de ter todo o cuidado na leitura
das figuras de linguagem nas Escrituras.
Erro número 15: Esquecer-se de que somente o texto original
é isento de erros, e não qualquer cópia das Escrituras.
Quando os críticos descobrem um genuíno erro numa cópia
(manuscrito) cometem outro erro fatal. Eles assumem que o erro se encontra
também no texto original das Escrituras, no texto inspirado. Esquecem-se de que
Deus proferiu o texto original das Escrituras, não as cópias. Portanto, somente
o texto original é isento de erros. A inspiração não garante que toda cópia do
original fique sem erros. Portanto, temos de levar em conta que pequenos erros
podem ser encontrados em alguns manuscritos, que são cópias do texto original.
Mas, de novo, como Agostinho com sabedoria observou, quando nos deparamos com
um, assim chamado, "erro" na Bíblia, temos de admitir uma entre duas
alternativas: ou o manuscrito não foi copiado corretamente, ou não entendemos
as Escrituras direito. O que não podemos pressupor é que Deus tenha cometido um
erro na inspiração do texto original.
Embora as atuais cópias das Escrituras sejam muito boas,
elas também não estão isentas de erros. Por exemplo, 2 Reis 8:26 dá a idade de
Acazias como sendo 22 anos, ao passo que 2 Crônicas 22:2 registra 42 anos. Este
segundo número não pode estar correto, pois implicaria que Acazias fosse mais
velho do que o seu pai. Obviamente, trata-se de um erro do copista, mas isso
não altera a inerrância do original
Algumas coisas temos de observar com respeito aos erros dos
copistas. Em primeiro lugar, são erros feitos nas cópias, e não no original.
Jamais alguém encontrou um original com um erro. Em segundo lugar, são erros de
menor importância (com freqüência, em nomes e em números), que não afetam
nenhuma doutrina da fé cristã. Em terceiro lugar, esses erros dos copistas são
relativamente em pequeno número como será demonstrado por todo o resto deste
livro. Em quarto lugar, geralmente, pelo contexto ou por outro texto das Escrituras,
podemos saber qual passagem incorre em erro. Por exemplo, no caso acima, a
idade certa de Acazias é 22, e não 42, já que ele não poderia ser mais velho do
que o seu pai.
Finalmente, muito embora possa haver um erro de cópia, a
mensagem inteira ainda assim é perfeitamente entendida. Nesses casos, a
validade da mensagem não se altera. Por exemplo, se você recebesse uma carta
como esta, você não entenderia a mensagem por completo? E você não iria
correndo atrás do seu dinheiro?
"#ocê foi contemplado no sorteio tal e tal e é o
ganhador
da importância de cinco milhões de reais."
Mesmo havendo um erro na primeira palavra, a mensagem
inteira é compreensível - você possui mais cinco milhões! E se no dia seguinte
você recebesse mais uma carta, com os seguintes dizeres, aí é que você teria
ainda mais certeza:
"V#cê foi contemplado no sorteio tal e tal e é o
ganhador
da importância de cinco milhões de reais."
Na verdade, quanto mais erros deste tipo houver (cada um num
lugar diferente), tanto mais certo você estará com respeito à mensagem
original. É por isso que os erros dos escribas nos manuscritos bíblicos não
afetam a mensagem básica da Bíblia. Assim, na prática, por mais imperfeições
que haja nos manuscritos utilizados, a Bíblia que temos em nossas mãos
transmite a verdade completa da original Palavra de Deus.
Texto extraído do livro: Manual popular de dúvidas, enigmas e "contradições" da Bíblia.
Autores: Norman Geisler e Thomas Howe.
Editora: Mundo Cristão.
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